ranhuras tecidas nas rodovias
sustentam
as lacunas de falo das corridas
o desate da porteira urbana
abriu o posso sem fundo
todos olham no sinal amarelo
o bocejo tosco do código gráfico
pelas frestas da trama
irradia
cartografia
o ponto de distribuição da
hora
começando a nos dar um com os outros
marcando território na base de curtidas
e cusparadas
vespas
peixes fantasmas
batem o ponto
vertebrados
cães touros gados
começam as lutas
(oferendas)
.
.
.
a poeira de cantera do lado mais escuro da terra
Safo em seu jardim monumental dá uma olhadela
ao canto mais à esquerda
do mapa
exclama:
a mim normal é quando populares no Saara
pela vida ou por uma simples piada
dão na cara um dos outros e
levantam a poeira que fica
colada no vidro da estufa
tudo que vejo
apenas humanidade
.
.
.
com ódio
um medo quase que desejo
seu cheiro de silicone industrial queimado na esquina
meu colar terrorista de marfim pra enfim
não entender nada
lamber tuas vergonhas
cortar teus argumentos teu fêmur
teu membro mais afeto mais paterno
tua coluna torta apegada ao solo
sua feição
seu silêncio
nosso riso pré-histórico
é tua infantilidade judiciária
teu diário de jovem solitário
que anima em minha alma a
queima na lâmpada da razão
uma vez que eu só sei fazer
enroscar mais e mais até causar
da ação de um ódio tolo
causar um filho causar com senso
alimento me dê tua carne
e é meu
o tamanho de seu semblante
no espelho noturno
em que se enxerga
o gênio a plateia e a borda da tela
a estranheza de nosso nome
regada com sóis viciados e água do Uruguai
a estranheza de nosso poema imundo habitando a correnteza
do mundo
e é meu o seu jeito de ficar cansada
de chegar em casa e de
pensar seio
com ódio nojo desejo medo eu tenho
vontade de te dar um beijo
.
.
.
A poesia não salva nada nem ninguém, ela somente supre o buraco da perda das certezas.
Ácidos e mais ácidos roeram as certezas. Enquanto isso, o poeta não se cura de si.